CARTA APOSTÓLICA PATRES ECCLESIAE

CARTA APOSTÓLICA
PATRES ECCLESIAE
DO SUMO PONTÍFICE
JOÃO PAULO II
NO XVI CENTENÁRIO DE SÃO BASÍLIO

Veneráveis Irmãos
e dilectos Filhos,
saúde e
Bênção Apostólica

  1. Introdução

PADRES DA IGREJA são chamados com razão aqueles santos que, com a força da fé, a profundidade e riqueza dos seus ensinamentos, durante os primeiros séculos a geraram e formaram [1].

Na verdade; foram “padres” ou pais da Igreja porque deles, mediante o Evangelho, recebeu ela a vida [2]. E também seus construtores, porque deles — sobre o fundamento único colocado pelos Apóstolos, que é Cristo [3] — a Igreja de Deus foi edificada nas suas estruturas fundamentais.

Da vida recebida dos seus pais ainda hoje vive a Igreja; e sobre as estruturas postas pelos seus primeiros construtores ainda hoje é edificada, na alegria e na pena do seu caminho e do seu trabalho quotidiano.

Padres ou pais foram, e pais continuam a ser para sempre: eles mesmos, de facto, são estrutura estável da Igreja, e, em favor da Igreja de todos os séculos, exercem uma função perene. De maneira que todo o anúncio e magistério seguinte, se quer ser autêntico, deve pôr-se em confronto com o anúncio e o magistério deles; todo o carisma e todo o ministério deve beber na fonte vital da paternidade deles; e toda a pedra nova, acrescentada ao edifício santo que todos os dias cresce e se amplifica [4], deve colocar-se nas estruturas já por eles postas e a elas soldar-se e ligar-se.

Guiada por estas certezas, a Igreja não se cansa de voltar à leitura dos seus escritos — cheios de sabedoria e incapazes de velhice — nem se cansa de os recordar continuamente. É pois com grande alegria que no decurso do ano litúrgico sempre tornamos a encontrar de novo os nossos pais: e todas as vezes somos por eles confirmados na fé e animados na esperança.

E maior ainda é a nossa alegria quando especiais circunstâncias convidam a encontrarmo-nos com eles de modo mais prolongado e profundo. De tal natureza é precisamente a circunstância deste ano, que assinala o XVI centenário do trânsito do nosso padre Basílio, Bispo de Cesareia.

  1. A vida e o ministério de São Basílio

Entre os padres gregos chamado “grande”, nos textos litúrgicos bizantinos Basílio é invocado como “luz da piedade” e “luminar da Igreja”. Iluminou-a, de facto, e ainda a ilumina: não menos pela “pureza da sua vida” que pela excelência da doutrina. Porque o primeiro e maior ensinamento dos santos é bem certo que está na vida que tiveram.

Nascido numa família de santos, Basílio teve ainda o privilégio duma educação esmerada, recebida dos mestres de maior reputação de Constantinopla e Atenas.

Mas a ele pareceu-lhe que a vida começou verdadeiramente só quando, de modo pleno e determinante, lhe foi dado conhecer Cristo como seu Senhor: isto é, quando, atraído irresistivelmente por Ele, praticou o desapego radical que tanto viria depois a inculcar no ensino [5], e se tornou Seu discípulo.

Colocou-se então no seguimento de Cristo, querendo só conformar-se com Ele: olhando para Ele só, ouvindo-O só a Ele [6], e em tudo e por tudo considerando-O seu único “soberano, rei, médico e mestre de verdade” [7]. Sem hesitar, abandonou portanto aqueles estudos, apesar de os ter amado tanto e deles ter tirado imensos tesouros de ciência [8]: Tendo na verdade decidido servir a Deus unicamente, já não quis saber nada senão de Cristo [9], e julgou vaidade toda a sabedoria que não fosse a da cruz. São palavras suas com que, já ao caminhar para o termo da vida, evocava o acontecimento da sua conversão: “Eu tinha desperdiçado muito tempo nas vaidades, perdendo quase toda a minha juventude no trabalho vão a que me aplicava para assimilar os ensinamentos daquela sabedoria que Deus tornou loucura [10]; até que um dia, como despertando dum sono profundo, olhei para a admirável luz da verdade do Evangelho, e considerei a inutilidade da sabedoria dos príncipes deste mundo que estão reduzidos à impotência [11]. Então muito chorei a minha miserável vida [12].

Chorou a sua vida, embora ele já antes — segundo o testemunho de Gregório Nazianzeno, seu companheiro de estudos — fosse humanamente exemplar [13] : pareceu-lhe ela todavia “miserável”, porque não era de modo total e exclusivo consagrada a Deus, que é o Senhor único.

Com indomável impaciência, interrompeu pois os estudos começados e, abandonando os mestres da sabedoria helénica, “atravessou muitas terras e muitos mares” [14] à procura doutros mestres: aqueles “estultos” e aqueles pobres que nos desertos se exercitavam em bem diversa sabedoria.

Começou assim a aprender coisas que nunca tinham subido ao coração do homem [15], verdades que os retóricos e os filósofos nunca lhe poderiam ensinar [16]. E nesta sabedoria nova cresceu em seguida de dia para dia, num maravilhoso itinerário de graça: mediante a oração, a mortificação o exercício da caridade, o ininterrupto contacto com as sagradas Escrituras e os ensinamentos dos Padres [17]. Bem depressa foi chamado ao ministério:

Mas também no serviço das almas, com prudente equilíbrio soube juntar a pregação infatigável com períodos de solidão e longa entrega à oração. Considerava, com efeito, que isto era de necessidade inderrogável para a “purificação da alma” [18], e depois para que o anúncio da oração fosse confirmado sempre pelo “evidente exemplo” da vida [19].

Assim se tornou pastor e foi ao mesmo tempo, no sentido mais substancial do termo, monge; mais, foi sem dúvida dos maiores monges-pastores da Igreja: figura singularmente completa de Bispo, e grande promotor e legislador do monaquismo.

Enriquecido com a experiência pessoal, Basílio contribuiu muito para a formação de comunidades de cristãos totalmente consagrados ao “divino serviço” [20], e tomou sobre si o compromisso e a fadiga de mantê-las com frequentes visitas [21]: para edificação sua e delas, demorando-se com as mesmas em admiráveis colóquios, muitos dos quais, por graça de Deus, nos foram transmitidos por escrito [22], Em tais documentos vieram inspirar-se vários legisladores do monaquismo, não sendo o último o próprio São Bento, que tem Basílio, por seu mestre [23]; nestes escritos — directamente ou indirectamente conhecidos — se inspirou a maior parte daqueles que, no Oriente como no Ocidente, abraçaram a vida monástica.

Por isso julgam muitos que aquela estrutura capilar da vida da Igreja que é o monaquismo, foi estabelecida, para todos os séculos, principalmente por São Basílio; ou que, pelo menos, não se definiu na sua natureza mais própria sem o seu contributo decisivo.

Basílio muito teve que sofrer com os males de que gemia, naquela hora difícil, o povo de Deus [24]. Denunciou-os com franqueza e, com lucidez e amor indicou as causas de que vinham, para se entregar corajosamente a uma vasta operação de reforma. Quer dizer, à obra — para ser continuada em todos os tempos, para ser renovada em todas as gerações — destinada a reconduzir a Igreja do Senhor, “pela qual morreu Cristo e sobre a qual derramou abundantemente o Seu Espírito” [25], à sua forma primitiva: àquela imagem normativa, bela e pura, que nos transmitem a palavra de Cristo e os Actos  dos Apóstolos. Quantas vezes não recorda Basílio, com paixão e saudade construtiva, o tempo em que “a multidão dos crentes era um só coração e uma só alma”![26].

O seu esforço de reforma dirigiu-se ao mesmo tempo, com harmonia e complementaridade, praticamente a todos os aspectos e circunstâncias , da vida cristã.

Pela natureza mesma do seu ministério, o Bispo é antes de tudo pontífice do seu povo; e o povo de Deus é primeiro que tudo povo sacerdotal.

Não pode portanto dalgum modo descuidar a liturgia — a sua força e riqueza, a sua beleza e a sua “verdade” — um Bispo verdadeiramente solícito do bem da Igreja. Mais ainda, na obra pastoral, o empenho em favor da liturgia está logicamente no vértice de tudo e concretamente acima de qualquer outra opção: a liturgia, de facto — como recorda o Concílio Vaticano II — é “simultaneamente a meta para a qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte donde promana toda a sua força” [27], de maneira que “nenhuma outra acção da Igreja lhe iguala a eficácia” [28].

Disto se mostrou perfeitamente consciente Basílio: e o “legislador de monges” [29] soube ser também esclarecido “reformador litúrgico” [30].

Da sua obra neste campo conserva-se, herança preciosíssima para a Igreja de todos os tempos, a anáfora que legitimamente tem o seu nome: a grande oração eucarística que, por ele refundida e enriquecida, é belíssima entre as mais belas.

Não só isso: até a ordenação fundamental da prece salmódica teve nele um dos maiores inspiradores: e executores [31]. Assim, principalmente pelo impulso a ele devido, a salmodia — “incenso espiritual”, respiração e conforto do povo de Deus [32] — foi muitíssimo apreciada na sua Igreja pelos fiéis, e tornou-se conhecida dos pequenos como dos adultos, dos doutos  como dos incultos [33]. Como refere o mesmo Basílio: “Ao nosso lado o povo levanta-se de noite para ir à casa da oração… e passa a noite alternando salmos e orações” [34]. Os salmos, que nas igrejas ribombavam como trovões [35], ouviam-se ressoar também nas casas e nas praças [36].

Basílio amou com amor exclusivo a Igreja [37]: e sabendo que a virgindade dela é a sua mesma fé da pureza desta fé foi guarda vigilantissimo.

Por isso julgou obrigação sua e soube combater com coragem: não contra “homens, mas contra qualquer adulteração da palavra de Deus” [38], qualquer falsificação da verdade, qualquer desfalque do depósito santo [39] transmitido pelos Padres. O seu ímpeto nada tinha de passional: era força de amor; e a sua clareza nada de caprichoso: era delicadeza de amor.

Assim, do princípio ao fim do seu ministério combateu para salvaguardar intacto o sentido da fórmula de Niceia quanto à divindade de Cristo “consubstancial” ao Pai [40]; e combateu igualmente para que não fosse diminuída a glória do Espírito que, “fazendo parte da Trindade e sendo da divina e bem-aventurada natureza dela” [41], deve ser com o Pai e o Filho connumerado e conglorificado[42].

Com firmeza e expondo-se em pessoa a perigos gravíssimos, vigiou e combateu também pela liberdade da Igreja: como verdadeiro Bispo, não hesitando em defrontar os soberanos para defender o direito, seu e do povo de Deus, a professar a verdade  e a obedecer ao Evangelho [43]. O Nazianzeno, que refere um episódio saliente desta luta, bem faz compreender que o segredo da força de Basílio não estava senão na simplicidade mesma do seu anúncio, na clareza do seu testemunho e na desarmada majestade da sua dignidade sacerdotal [44].

Não menor severidade de que defrontando heresias e tiranos, mostrou Basílio contra equívocos e abusos no interior da Igreja: particularmente, contra a mundanização e o apego aos bens da terra.

A movê-lo estava, ainda e sempre, o mesmo amor à verdade e ao Evangelho; embora de modo diverso, era afinal sempre o Evangelho, com efeito, que era negado e opugnado: ou pelo erro dos heresiarcas ou pelo egoísmo dos ricos.

A este respeito são dignos de memória, e mantêm-se como exemplo, os textos dalguns discursos seus: “Vende o que tens e dá-o aos pobres [45];… porque, ainda que não tenhas matado ou cometido adultério ou roubado ou dito falsos testemunhos, isto não te serve de nada se não fizeste também o resto: só deste modo poderás entrar no reino de Deus” [46]. Quem, de facto, segundo o mandamento de Deus, quer amar o próximo como a si mesmo [47], “não deve possuir nada mais do que possui o seu próximo”[48].

E de modo ainda mais apaixonado exortava, em tempo de carestia, os cristãos “a que não se mostrassem mais cruéis que os animais,… metendo no próprio seio o que é comum e possuindo sozinhos o que é de todos” [49].

Radicalismo desconcertante e belíssimo, e enérgico apelo à Igreja de todos os tempos a confrontar-se com o Evangelho seriamente.

Ao Evangelho, que preceitua o amor e o serviço dos pobres, não só com estas palavras deu testemunho Basílio, mas também com obras imensas de caridade: como a construção, às portas de Cesareia, dum gigantesco hospício para os necessitados [50]: verdadeira cidade da misericórdia, que dele tomou o nome de Basilíade [51], ela também momento autêntico do único anúncio evangélico.

Foi o mesmo amor a Cristo e ao seu Evangelho aquilo que tanto o fez sofrer com as divisões da Igreja, e com tanta perseverança, esperando contra spem, lhe fez procurar, com todas as Igrejas, comunhão mais eficaz e manifesta [52].

É a verdade mesma do Evangelho, com efeito, que é obscurecida pela discórdia dos cristãos e é o próprio Cristo que é por ela dilacerado [53]. A divisão dos crentes contradiz o poder do baptismo único [54], que nos faz em Cristo uma coisa só, até mesmo uma única pessoa mística [55]; contradiz a soberania de Cristo, rei único a que todos devem igualmente estar sujeitos; contradiz a autoridade e a força unificante da palavra de Deus, única lei a que todos os crentes devem concordemente obedecer [56].

A divisão das Igrejas é portanto um facto tão clara e directamente anticristológico e antibíblico que, segundo Basílio, o caminho para a recomposição da unidade pode ser unicamente a reconversão de todos a Cristo e à Sua palavra [57].

No multiforme exercício do seu ministério fez-se portanto Basílio, como prescrevia para todos os anunciadores da palavra, “apóstolo e ministro de Cristo, administrador dos mistérios de Deus, arauto do Reino, modelo e regra de piedade, olhar do corpo da Igreja, pastor das ovelhas de Cristo, médico compadecido, pai e ama, cooperador de Deus, agricultor de Deus e construtor do templo de Deus” [58].

E em tal obra e tal luta — árdua, dolorosa e sem tréguas — ofereceu Basílio a sua vida [59] e consurpiu-se em holocausto.

Morreu com menos de cinquenta anos, gasto pelas fadigas e pela ascese.

III. O magistério de São Basílio

Depois de assim recordar brevemente aspectos marcantes da vida de Basílio e do esforço de cristão e de Bispo, parece razoável tentar haurir, da riquíssima herança dos seus escritos, pelo menos algumas indicações mais importantes. Entrarmos de novo na sua escola poderá dar luz para melhor enfrentarmos os problemas e as dificuldades deste nosso tempo, e portanto ajudar-nos para o nosso presente e para o nosso futuro.

Não se julgue abstracto começarmos por aquilo que ele ensinou a respeito da Santíssima Trindade: é mesmo certo que não pode haver princípio melhor, pelo menos se nos queremos ajustar ao seu pensamento.

Por outro lado, qual é a realidade que mais se pode impor ou ser mais normativa para a vida que o mistério da vida mesma de Deus? Pode haver ponto de referência mais significativo e vital que este, para o homem?

Para o homem novo, que é conformado a este mistério na estrutura íntima do próprio ser e do próprio existir; e para cada homem, saiba-o ou não: porque não há ninguém que não tenha sido criado por Cristo, o Verbo eterno, e não há ninguém que não seja chamado, pelo Espírito e no Espírito, a glorificar o Pai.

É o mistério primordial, a Trindade santa: pois não é outra coisa senão o mistério mesmo de Deus, do único Deus vivo e verdadeiro.

Deste mistério, proclama Basílio com firmeza a realidade: a tríade dos nomes divinos, diz, indica sem dúvida três hipóstases distintas [60]. Mas com não menor firmeza confessa a absoluta inacessibilidade do mistério.

Quanto era lúcida nele, teólogo sumo, a consciência da enfermidade e a improporção de qualquer teologar!

Ninguém, dizia, é capaz de teologar de modo digno, e a grandeza do mistério ultrapassa qualquer exposição, de maneira que nem sequer as línguas dos anjos o podem atingir [61].

Realidade abissal e imperscrutável, portanto, o Deus vivo! Apesar disso, Basílio sabe que “deve” falar d’Ele, antes e mais de qualquer outra coisa. E assim, crendo, fala [62]: por força irreprimível do amor, por obediência ao mandato de Deus e para edificação da Igreja, que não cansa nunca de ouvir tais coisas” [63].

Mas é talvez mais exacto dizer que Basílio, como verdadeiro “teólogo”, mais que falar deste mistério, o canta.

Canta o Pai: “o princípio de tudo, a causa do ser daquilo que existe, a raiz dos viventes” [64], e sobretudo “pai de nosso Senhor Jesus Cristo” [65]. E como o Pai está primariamente em relação com o Filho, assim o Filho — o Verbo que se fez carne no seio de Maria — está primariamente em relação com o Pai.

Assim pois, O contempla e canta Basílio: na “luz inacessível”, no “poder inefável”, na “grandeza infinita”, na “glória superesplendente” do mistério trinitário, Deus de Deus [66], “imagem da bondade do Pai e selo de forma igual a Ele” [67]. Só deste modo, confessando sem ambiguidades Cristo como “Um da santíssima Trindade” [68], Basílio pode vê-1’O depois com pleno realismo no aniquilamento da Sua humanidade. E como poucas outras pessoas sabe levar a que se meça o infinito espaço que Ele percorreu à nossa procura; como poucos sabe levar a que se perscrute no abismo da humilhação d’Aquele que “estando na condição de Deus, se esvaziou a Si mesmo tomando a condição de servo” [69].

No ensinamento de Basílio, a Cristologia da glória em nada atenua a Cristologia da humilhação: pelo contrário, serve para proclamar, com energia ainda maior, aquele conteúdo central do Evangelho que é a palavra da cruz [70] e o escândalo da cruz [71].

Este é, de facto, esquema habitual da sua exposição cristológica: é a luz da glória que revela o sentido do abaixamento.

A obediência de Cristo é verdadeiro “evangelho”, quer dizer, realização paradoxal do amor redentor de Deus, exactamente porque — e apenas se — quem obedece é “o Filho Unigénito de Deus, o Senhor e Deus nosso, aquele mediante o qual todas as coisas foram feitas” [72]; e é assim que a obediência d’Ele pode dobrar a nossa obstinada desobediência. Os sofrimentos de Cristo, cordeiro imaculado que não abriu a boca contra quem lhe batia [73], possuem alcance infinito e valor eterno e universal, exactamente por Aquele que assim sofreu ser “o Criador e Soberano do céu e da terra, adorável acima de toda a criatura espiritual ou sensível, Aquele que tudo sustenta com a palavra do Seu poder” [74]; e é assim que a paixão de Cristo domina a nossa violência e aplaca a nossa ira.

A cruz, por fim, é verdadeiramente a nossa “única esperança” [75] — não vencida portanto, mas acontecimento salvífico, “exaltação” [76] e triunfo estupendo — só por Aquele, que nela esteve pregado e nela morreu, ser “o Senhor nosso e de todos” [77], “Aquele mediante quem foram feitas todas as coisas, visíveis e invisíveis, aquele que possui a vida como a possui o Pai que Lha deu, Aquele que do Pai recebeu todo o poder” [78]; e é assim que a morte de Cristo nos liberta daquele “temor da morte” do qual todos éramos escravos [79].

“D’Ele, Cristo, brilhou o Espírito Santo: o Espírito da verdade, o dom da adopção filial, o penhor da herança futura, a primícia dos bens eternos, o poder vivificante, a fonte da santificação, de que toda a criatura racional e intelectual recebe o poder de prestar culto ao Pai e elevar a Ele a doxologia eterna” [80].

Este hino da Anáfora de Basílio exprime bem e sinteticamente o papel do Espírito Santo na economia salvífica. É o Espírito que, dado a cada baptizado, em cada um opera carismas e a cada um recorda os ensinamentos do Senhor [81]; é o Espírito que anima a Igreja inteira, a ordena e vivifica com os seus dons fazendo dela um corpo completo “espiritual” e carismático [82].

Daqui subia Basílio à serena contemplação da “glória” do Espírito, misteriosa e inacessível: confessando-O, acima de toda a criatura [83], Soberano e Senhor, uma vez que por Ele somos divinizados [84], e Santo por essência, uma vez que por Ele somos santificados [85]. Tendo assim contribuído para a formulação da fé trinitária da Igreja, Basílio fala ainda hoje ao seu coração e consola-a, particularmente com a luminosa confissão do seu Consolador.

A luz fulgurante do mistério trinitário de maneira nenhuma deixa na sombra a glória do homem: pelo contrário, exalta-a e revela-a o mais possível.

O homem, de facto, não é rival de Deus, loucamente oposto a Ele; e não está sem Deus, abandonado ao desespero da própria solidão. Mas é reflexo de Deus e Sua imagem.

Por isso, quanto mais resplandece Deus, tanto mais no homem reverbera a Sua luz; quanto mais é exaltado Deus, tanto mais é elevada a dignidade do homem.

E deste modo, na verdade, Basílio celebrou a dignidade do homem: vendo-a toda em relação com Deus, quer dizer, derivada d’Ele e tendo-O a Ele por fim.

Essencialmente para conhecer a Deus recebeu o homem a inteligência, e para viver em conformidade com a Sua lei recebeu a liberdade. E é somente enquanto imagem de Deus que o homem transcende toda a ordem da natureza e aparece “mais glorioso que o céu, mais que o sol, mais que os coros dos astros: qual céu, de facto, é chamado imagem de Deus altíssimo?” [86].

Precisamente por isto, a glória do homem está radicalmente condicionada com a sua relação com Deus: o homem consegue em plenitude a sua dignidade “real” só realizando-se enquanto imagem, e torna-se verdadeiramente ele próprio só conhecendo e amando Aquele pelo qual tem a razão e a liberdade.

Já antes de Basílio, assim se exprimia admiravelmente Santo Ireneu: “A glória de Deus é o homem vivo; mas a vida do homem é a visão de Deus” [87]. O homem vivo é em si mesmo glorificação de Deus, enquanto raio da Sua beleza; mas não tem “vida” senão recebendo-a de Deus, na relação pessoal com Ele. Falir nesta missão significaria para o homem atraiçoar a própria vocação essencial, e portanto negar e aviltar a própria dignidade [88].

E que outra coisa é o pecado senão isto? O próprio Cristo, de facto, não veio acaso para restaurar e restituir a sua glória a esta imagem de Deus que é o homem, ou seja, à imagem que o homem, com o pecado, tinha ofuscado [89], corrompido [90] e quebrado? [91].

Exactamente para isto — afirma Basílio com as palavras da Escritura — “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” [92], e “tanto se humilhou a si mesmo a ponto de fazer-se obediente até à morte, e morte de cruz” [93]. Por isso, ó homem, “dá-te conta da tua grandeza considerando o preço que custaste: olha para o preço do teu resgate, e compreende a tua dignidade!” [94].

A dignidade do homem está, portanto, ao mesmo tempo no mistério de Deus e no mistério da cruz: é este o “humanismo” de Basílio, ou — poderemos dizer mais simplesmente — o humanismo cristão.

O restauro da imagem só pode portanto realizar-se em virtude da cruz de Cristo: “Foi a Sua obediência até à morte que se tornou para nós redenção dos pecados, libertação da morte que reinava pela culpa original, reconciliação com Deus, poder de agradar a Deus, dom de justiça, comunhão dos santos na vida eterna e herança do Reino dos Céus” [95].

Mas, para Basílio, equivale a dizer que tudo isto se realiza em virtude do Baptismo.

Que vem a ser, afinal, o Baptismo senão o acontecimento salvífico da morte de Cristo, em que estamos inseridos mediante a celebração do mistério? O mistério sacramental, “imitação” da Sua morte, mergulha-nos na realidade da Sua morte; como escreve Paulo: “Ignorais, porventura, que todos nós, que fomos baptizados em Jesus Cristo, fomos baptizados na Sua morte?” [96].

Baseando-se precisamente na misteriosa identidade do Baptismo com o acontecimento pascal de Cristo, no seguimento de Paulo também Basílio ensina que ser baptizado não é senão ser realmente crucificado — isto é, pregado com Cristo na Sua única cruz —, realmente morrer a Sua morte, com Ele ser sepultado no Seu sepulcro, e em consequência com Ele ressuscitar na Sua ressurreição [97].

Por isso, coerentemente pode ele aplicar ao Baptismo os mesmos títulos de glória com que o ouvimos cantar hinos à cruz: também o Baptismo é “resgate dos prisioneiros, remissão das dívidas, morte do pecado, regeneração da alma, hábito de luz, selo inviolável, veiculo para o céu, título para o reino, dom da filiação” [98]. É por isso, de facto, que se fortalece a união entre o homem e Cristo, e que mediante Cristo o homem é inserido no coração mesmo da vida trinitária: tornando-se espírito porque nascido do Espírito [99] e filho porque revestido do Filho, numa relação altíssima com o Pai do Unigénito, que já realmente se tornou também o seu Pai [100].

À luz duma consideração tão vigorosa do mistério baptismal, manifesta-se a Basílio o sentido mesmo da vida cristã. Doutro modo, como compreender este mistério do homem novo, senão fixando o olhar no ponto luminoso do seu nascimento novo e no poder divino que no Baptismo o gerou?

“Como se define o cristão?” — pergunta-se Basílio; e responde: “Como aquele que é gerado pela água e pelo Espírito no Baptismo”[101]. Só naquilo de que somos se revela aquilo que somos e aquilo para que somos.

Criatura nova, o cristão, mesmo quando não está plenamente consciente disso, vive vida nova; e na sua realidade mais profunda, embora com o seu proceder o renegue, é transferido para uma pátria nova, sendo ele como que celeste na terra [102]: porque a operação de Deus é infinita e infalivelmente eficaz, e fica sempre nalguma medida além de todos os desmentidos e contradições do homem. Permanece sempre a obrigação e é, em relação essencial com o Baptismo, o sentido mesmo da vida cristã — a obrigação de a pessoa se tornar de facto aquilo que ela é, adaptando-se à nova dimensão “espiritual” e escatológica do próprio mistério pessoal. Como se exprime, com a habitual clareza, São Basílio: “Qual é o significado e o poder do Baptismo? Que o baptizado se transforma nos pensamentos, nas palavras e nas obras, e se torna — em virtude do poder que lhe foi concedido — como é Aquele por quem foi gerado” [103].

A Eucaristia, coroa da iniciação cristã, é sempre considerada por Basílio em relação estreitíssima com o Baptismo. Único alimento adequado ao novo ser do baptizado e capaz de lhe sustentar a vida nova e alimentar-lhe as novas energias [104]; culto em espírito e verdade, exercício do novo sacerdócio e sacrifício perfeito do Israel novo [105], só a Eucaristia realiza em plenitude e aperfeiçoa a nova criação baptismal.

Por isso, é mistério de imensa alegria — só cantando se pode participar nele [106] — e de infinita e tremenda santidade. Como poderia, quem está em pecado, ocupar-se do corpo do Senhor? [107]. A Igreja que comunga deveria estar verdadeiramente “sem mancha nem ruga, mas santa e imaculada” [108]: isto é, deveria sempre, com vigilante consciência do mistério que celebra, examinar-se bem a si mesma [109], para se purificar cada vez mais “de toda a contaminação e impureza” [110].

Por outro lado, abster-se de comungar não é possível: para a Eucaristia, de facto, necessária para a vida eterna [111], está ordenado o próprio Baptismo, e o povo dos baptizados deve ser puro precisamente para participar na Eucaristia [112].

Só a Eucaristia, aliás, verdadeiro memorial do mistério pascal de Cristo, é capaz de manter em nós desperta a memória do Seu amor. Na verdade, a Eucaristia é o segredo da vigilância da Igreja: seria demasiado fácil a esta, doutro modo — sem a divina eficácia desta recordação contínua e dulcíssima, sem a força penetrante deste olhar do seu Esposo fixado nela — cair no esquecimento, na insensibilidade e na infidelidade. Com este objectivo foi instituída a Eucaristia, como dizem as palavras do Senhor: “Fazei isto em memória de Mim” [113]; e com esta finalidade, por conseguinte, deve ela ser celebrada.

Basílio não se cansa de repeti-lo: “Para recordar” [114]; mais, para recordar sempre, “para a recordação indelével” [115], “para guardar incessantemente a recordação d’Aquele que morreu e ressuscitou por nós” [116].

Só a Eucaristia, portanto, por desígnio e dom de Deus, pode verdadeiramente guardar no coração “o selo” [117] daquela recordação de Cristo que, apertando-nos como num torno, nos impede de pecar. E por isso especialmente, em relação com a Eucaristia, que Basílio retoma o texto de Paulo: “O amor de Cristo nos constrange, persuadidos que, se um só morreu por todos, então todos estão mortos. Cristo morreu por todos para que os que vivem já não vivam para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” [118]. Mas que vem a ser este viver para Cristo — ou “viver integralmente para Deus” — senão o conteúdo mesmo do pacto baptismal? [119]. Também por este motivo, se apresenta a Eucaristia como plenitude do Baptismo: só ela, de facto, consente que ele seja vivido com fidelidade e seja actualizado continuamente no seu poder de graça.

Por isso Basílio não hesita em recomendar a comunhão frequente ou mesmo quotidiana: “Comungar mesmo todos os dias, recebendo o santo corpo e sangue de Cristo, é coisa boa e útil; porque Ele mesmo diz claramente: ‘Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna’ [120]. Quem duvidará então que participar continuamente da vida não seja viver em plenitude?” [121].

Verdadeiro “alimento da vida eterna”, capaz de nutrir a vida nova no baptizado é, como a Eucaristia, também “toda a palavra que sai da boca de Deus” [122]. É o mesmo Basílio que estabelece com energia este nexo fundamental entre a mesa da palavra de Deus e a do corpo de Cristo [123]. De facto, embora de modo diverso, também a Escritura, como a Eucaristia, é divina, santa e necessária. Verdadeiramente divina, afirma Basílio com singular energia: isto é, “de Deus” no sentido mais próprio. Deus mesmo a inspirou [124], Deus a confirmou [125], Deus a pronunciou mediante os hagiógrafos [126] — Moisés, os profetas, os evangelistas e os apóstolos [127] — e sobretudo mediante o Seu Filho [128]; Ele, o único Senhor: quer no Antigo quer no Novo Testamento [129], certamente com graus diversos de intensidade e diversa plenitude de revelação [130], mas também sem sombra de contradição[131].

De substância divina, ainda que feita de palavras humanas, a Escritura é por isso de infinita autoridade: fonte da fé, segundo a palavra de Paulo [132], é o fundamento duma certeza plena, indúbia, não vacilante [133]. Sendo toda de Deus, é toda, mesmo em cada sua mínima parte, infinitamente importante e digna de extrema atenção [134].

E por isto também, a Escritura é com razão chamada santa: porque, como seria terrível sacrilégio profanar a Eucaristia, seria também sacrilégio atentar contra a integridade e a pureza da palavra de Deus. Não podemos por conseguinte entendê-la segundo categorias humanas, mas sim à luz dos seus mesmos ensinamentos, quase “pedindo ao próprio Senhor a interpretação das coisas por Ele ditas” [135]; e não se pode “tirar nem acrescentar nada” àqueles textos divinos entregues à Igreja para todos os tempos, àquelas palavras santas pronunciadas por Deus uma vez para sempre [137].

É de necessidade vital, na verdade, que a relação com a palavra de Deus seja sempre adoradora, fiel e amorosa. Essencialmente é dela que a Igreja se deve inspirar no seu ensino (137), deixando-se guiar pelas palavras mesmas do seu Senhor [138], a fim de não se arriscar a “reduzir a palavras humanas as palavras da religião” [139].

E à Escritura deve referir-se “sempre e em toda a parte” cada cristão em todas as decisões [140], tornando-se diante dela “como criança” [141], procurando nela o mais eficaz remédio contra todas as suas diversas enfermidades [142], e não se atrevendo a dar um passo sem ser iluminado pelos raios divinos daquelas palavras [143].

Autenticamente cristão, todo o magistério de Basílio é, como se viu; “evangelho”, proclamação alegre da salvação. Não será cheia de alegria e fonte de alegria a confissão da glória de Deus que irradia sobre o homem, Sua imagem? Não será acaso estupendo o anúncio da vitória da cruz, na qual, “pela grandeza da piedade e a multidão das misericórdias de Deus” [144], os nossos pecados foram perdoados antes ainda de nós os cometermos? [145]. Que anúncio mais consolador que o do Baptismo que nos regenera, da Eucaristia que nos alimenta e da Palavra que nos ilumina? Mas exactamente por isto, por não ter calado ou diminuído o poder salvífico e transformador da obra de Deus e das “energias do século futuro” [146], Basílio pode pedir a todos, com muita firmeza, amor total para com Deus, dedicação sem reservas e perfeição de vida evangélica [147].

Porque, se o Baptismo é graça — e que enorme graça todos os que a conseguiram receberam efectivamente “o poder e a força de agradar a Deus” [148], e são, por ,isso mesmo, “todos igualmente obrigados a adequar-se a tal graça”, isto é, a viver segundo o Evangelho” [149].

“Todos igualmente”: não há cristãos de segunda categoria, pelo simples facto de que não há baptismos diversos, e porque o sentido da vida cristã está todo intrinsecamente encerrado no pacto baptismal único [150].

“Viver em conformidade com o Evangelho”: que significa isto, em concreto, segundo Basílio? Significa tender, com todo o impulso do próprio íntimo [151] e com todas as novas energias disponíveis, para conseguir “agradar a Deus” [152]. Significa, por exemplo, “não ser rico mas pobre, segundo a palavra do Senhor” [153], realizando assim uma condição fundamental para O poder seguir[154] com liberdade [155], e manifestando, quanto à norma que domina no viver mundano, a novidade do Evangelho [156]. Significa submeter-se totalmente à palavra de Deus, renunciando sempre à “própria vontade” [157] e tornando-se obediente, à imitação de Cristo, “até à morte” [158].

Na verdade, Basílio não se envergonhava do Evangelho: mas, sabendo que ele é poder de Deus para a salvação de todo o crente[159], anunciava-o com aquela integridade [160] que o faz ser plenamente palavra de graça e fonte de vida.

Apraz-nos, por fim, fazer notar que São Basílio, embora mais sobriamente que o irmão São Gregório Nisseno, e o amigo São Gregório Nazianzeno, celebra a virgindade de Maria [161]): chama-lhe “profetisa” [162] e com feliz expressão assim motiva os esponsais de Maria com José: “Houve-os para que a virgindade fosse honrada e não fosse desprezado o matrimónio” [163].

A Anáfora de São Basílio acima recordada contém louvores excelsos à “toda santa, imaculada, ultra-abençoada e gloriosa Senhora mãe de Deus e sempre-virgem Maria”; “Mulher cheia de graça, exultação de tudo o que foi criado.

  1. Conclusão

Deste grande santo e mestre, todos nós, na Igreja, nos gloriamos de ser discípulos e filhos: reconsideremos portanto o seu exemplo e oiçamos de novo com veneração os seus ensinamentos, com íntima disponibilidade deixando-nos admoestar, confortar e exortar.

Confiamos esta mensagem de modo particular às numerosas Ordens religiosas, masculinas e femininas, que se honram do nome e da protecção de São Basílio e lhe seguem a Regra, incitando-as nesta feliz celebração a propósito de novo fervor numa vida de ascese e contemplação das coisas divinas, que depois superabunde em obras santas para glória de Deus e edificação da Santa Igreja.

Para a feliz consecução de tais objectivos, imploramos também o auxílio maternal da Virgem Maria, e em auspício de dons celestes e penhor da nossa benevolência, com grande afecto vos concedemos a Bênção Apostólica.

Dado em Roma, junto de São Pedro, aos 2 de Janeiro, na memória de São Basílio Magno e São Gregório Nazianzeno, Bispos e Doutores da Igreja, no ano de 1980, segundo do nosso Pontificado

 

JOÃO PAULO PP. II

Notas

[1] Cfr. Vincentius Lirinesis. Commonitorium I, 3; PL 50. 641.

[2] Cfr. 1 Cor 4, 15.

[3] Cfr. 1 Cor 3, 11.

[4] Cfr. Ef 2, 21.

[5] Cfr. Regulae fusius tractatae, 8: PG 31, 933c-941a.

[6] Cfr. Moralia LXXX, 1; PG 31, 860bc.

[7] De baptismo I, 1; PG 31, 1516b.

[8] Cfr. Gregorius Nazianzenus, In laudem BasiliiPG 36. 525c-528c.

[9] Cfr. 1 Cor 2. 2.

[10] Cfr. 1 Cor 1, 20.

[11] Cfr. 1 Cor 2, 6.

[12] Epistula 223PG 32, 824a.

[13] In laudem BasiliiPG 36. 521cd.

[14] Epistula 204; PG 32, 753a.

[15] Cfr. 1 Cor 2, 9.

[16] Cfr. Epistula 223, PG 32, 824bd.

[17] Cfr. sobretudo Epístolas 2 e 22.

[18] Epistula 2, PG 32, 228a. cfr. Ep. 210, 769a.

[19] Regulae fusius tractatae, 43; PG 31, 1028a-1029b. cfr. Moralia LXX 10: PG 31, 824d-825b.

[20] Regula Benedicti, Prologus.

[21] Cfr. Gregorius Nazianzenus, In laudem BasiliiPG 36, 536b.

[22] Cfr. Regulae brevius tractataeproemiumPG 31, 1080ab.

[23] Cfr. Regula Benedicti, LXXIII, 5.

[24] Cfr. De iudicioPG 31, 653b.

[25] Ibid.

[26] Act. 4, 32: cfr. De iudicio 660c. Regulae fusius tractatae, 7, 933c; Homilia tempore famis, 325ab.

[27] Sacrosanctum Concilium, 10.

[28] Ibid., 7.

[29] Gregorius Nazianzenus, In laudem BasiliiPG 36, 541c.

[30] Ibid.

[31] Cfr. Epistula 2 e Regula fusius tractatae 37; PG 31, 1013b-1016c.

[32] Cfr. In Psalmum 1; PG 29, 212a -213c.

[33] Ibid.

[34] Epistula 207; PG 32, 764ab.

[35] Gregorius Nazianzenus, In laudem BasiliiPG 36, 561cd.

[36] Cfr. In Psalmum 1; PG 29, 212c.

[37] Cfr. 2 Cor 11, 2.

[38] Cfr. 2 Cor 2, 17.

[39] Cfr. 1 Tim 6, 20; 2 Tim 1, 14.

[40] Cfr. Epistula 9; PG 32, 272a; Epistula 52, 392b-396a; Adv. Eunomium I; PG 29, 556c.

[41] Epistula 243; PG 32, 909a.

[42] Cfr. De Spiritu sanctoPG 32. 117c.

[43] Cfr. Gregorius Nazianzenus, In laudem BasiliiPG 36, 557c-561c.

[44] Cfr. ibid. 561c-564b.

[45] Mt 19, 22.

[46] Homilia in divitesPG 31, 280b-281a.

[47] Cfr. Lv 19, 18; Mt 19, 19.

[48] Homilia in divitesPG 31, 281b.

[49] Homilia tempore famisPG 31, 325a.

[50] Cfr. Epistula 94, 488bc.

[51] Cfr. Sozomenus, Historia Eccl. VI, 34; PG 67, 1397a.

[52] Cfr. Epistulas 70 e 243.

[53] Cfr. 1 Cor 1, 13.

[54] Cfr. Ef 4, 4.

[55] Cfr. Gál 3, 28.

[56] Cfr. De iudicio; PG 31, 653a-656c.

[57] Cfr. ibid. 660b-661a.

[58] Cfr. Moralia LXXX, 12-21; PG 31, 864b-868b.

[59] Cfr. Moralia LXXX, 18, 865c.

[60] Cfr. Adv. Eunomium I; PG 29, 529a.

[61] Cfr. Homilia de fidePG 31, 464b-465a.

[62] Cfr. 2 Cor 4, 13.

[63] Homilia de fide, 464cd.

[64] ibid. 465c.

[65] Anaphora S. Basilii.

[66] Homilia de fide, 465cd.

[67] Cfr. Anaphora S. Basilii.

[68] Liturgia S. Ioannis Chrysostomi.

[69] Fil 2, 6s.

[70] Cf. 1 Cor 1, 18.

[71] Cfr. Gál 5, 11.

[72] De iudicioPG 31, 660b.

[73] Cfr. Is 53, 7.

[74] Cfr. Heb 1, 3: Hom. de ira; ; PG 31, 369b.

[75] Lit. Hor., Hebdomada sancta, hymnus ad Vesperas.

[76] Cfr. Jo 8, 32 s., et alibi.

[77] Cfr. Act 10, 36: De baptismo I, 12; PG 31, 1624b.

[78] De baptismo II, 13, 1652c. 1

[79] Cfr. Heb 2, 15.

[80] Cfr. Anaphora S. Basilii.

[81] Cfr. De baptismo I, 2; PG 31, 1561a.

[82] Cfr. De Spiritu sanctoPG 32, 181ab; De iudicioPG 31, 657c-660a.

[83] Cfr. De Spiritu sancto, cap. 22.

[84] Cfr. ibid., cap. 20 s.

[85] Cfr. ibid., cap. 9 e 18.

[86] In Psalmum 48; PG 29, 449c.

[87]Adversus haereses IV, 20, 7.

[88] Cfr. In Psalmum 48, 449d-45

[89] Homilia de maloPG 31, 333a.

[90] In Psalmum 32; PG 29, 344b.

[91] De baptismo I, 2; PG 31, 1537a.

[92] Jo 1, 14.

[93] Cfr. Flp. 2, 8; In Psalmum 48, PG 29, 452ab.

[94] Ibid., b.

[95] De baptismo I, 2: PG 31. 1556b.

[96] Rom 6, 3.

[97] Cfr. De baptismo I, 2.

[98] In sanctum baptismo; PG 31, 433ab.

[99] Cfr. Moralia XX, 2; PG 31, 736d: ibid. LXXX, 22, 869a.

[100] Cfr. De baptismo I, 2, 1564c-1565b.

[101] Moralia LXXX, 22; PG 31, 868d.

[102] Cfr. De Spiritu sanctoPG 32. 157c; In sanctum baptismoPG 31, 429b.

[103] Moralia XX, 2; PG 31, 736d.

[104] Cfr. De baptismo I, 3; PG 31, 1573b.

[105] Cfr. ibid. II, 2 s. e 8, 1601c; Epistula 93; PG 32, 485a.

[106] Cfr. Moralia XXI, 4; PG 31, 741a.

[107] Cfr. De baptismo II, 3; PG 31, 1585ab.

[108] Ef 5, 27: Moralia LXXX, 22, 869b.

[109] Cfr. 1 Cor 11, 28: Moralia XXI, 2, 740ab.

[110] De baptismo II. 3; PG 31, 1585ab.

[111] Cfr. Moralia XXI, 1; PG 31, 737e.

[112] Cfr. Moralia LXXX, 22, 869b.

[113] 1 Cor 11, 24 s. e par.

[114] Moralia XXI, 3, 740b.

[115] Ibid. 1576d.

[116] Moralia LXXX, 22, 869b.

[117] Cfr. Regulae fusius tractatae 5; PG 31, 921b.

[118] 2 Cor 5, 14 s.

[119] Cfr. De baptismo II, 1: PG 51, 1581a.

[120] Jo 6,. 54.

[121] Epistola 93; PG 32, 484b.

[122] Mt 4, 4; cfr. Dt 8, 3: De baptismo 1, 3; PG 31, 1573bc.

[123] Cfr. Dei Verbum 21.

[124] Cfr. De iudicioPG 31; 664c1: De fideibid. 677a, etc.

[125] Cfr. De fidePG 31, 680b.

[126] Cfr. Regulae brevius tractatae 13: PG 31, 1092a; Adv. Eunomium II; PG 29. 597c, etc.

[127] Cfr. De baptismo I, 1; PG 31, 1524d.

[128] Cfr. De baptismo I, 2, 1561c.

[129] Cfr. Regulae brevius tractatae 47; PG 31, 1113a.

[130] Cfr. Regulae brevius tractatae 276; PG 31, 1276cd; De baptismo I. 2; PG 31, 1545b.

[131] Cfr. De fidePG 31, 692b.

[132] Cfr. Rom 10, 17: Moralia LXXX, 22; PG 31, 868c.

[133] Ibid.

[134] Cfr. In Hexaem VI; PG 29, 144c; ibid. VIII, 184c.

[135] De baptismo II, 4; PG 31, 1589b.

[136] Cfr. De fide; PG 31, 680ab; Moralia LXXX, 22, ib. 868c.

[137] Cfr. In Psalmum 115; PG 30, 105c, 108a.

[138] Cfr. De baptismo I, 2; PG 31, 1533c.

[139] Epistula 140; PG 32, 588b.

[140] Cfr. Regulae brevius tractatae. 269; PG 31, 1268c.

[141] Cfr. Mc 10, 15: Regulae brevius tractatae, 217; PG 31, 1225bc; De baptismo I, 2; PG 31, 1560ab.

[142] Cfr. In Psalmum 1; PG 29, 209a.

[143] Cfr. Regulae brevius tractatae, 1; PG 31, 1081a.

[144] Regulae brevius tractatae, 10; PG 31, 1088c.

[145] Cfr. Regulae brevius tractatae, 12, 1089b.

[146] Cfr. Heb 6, 5.

[147] Cfr. Moralia LXXX, 22; PG 31, 869c.

[148] Regulae brevius tractatae, 10; PG 31, 1088c.

[149] De baptismo II, 1; PG 31, 1580ae,

[150] Ibid.

[151] Cfr. Regulae brevius tractatae, 157; PG 31, 1185a.

[152] Cfr. Moralia I, 5; PG 31, 704a e passim.

[153] Moralia XLVIII, 3; PG 31, 769a.

[154] Cfr. Regulae fusius tractatae, 10; PG 31, 944d-945a.

[155] Regulae fusius tractatae, 8, 940bc; Regulae brevius tractatae, 237, 1241b.

[156] Cfr. De baptismo I, 2; PG 31, 1544d.

[157] Cfr. Regulae fusius tractatae, 6; PG 31, 925c; 41, 1021a.

[158] Cfr. Flp 2, 8; Regulae fusius tractatae, 28, 989b; Regulae brevius tractatae, 119, 1161d. e passim.

[159] Cfr. Rom 1, 16.

[160] Cfr. Moralia LXXX, 12; PG 31, 864b.

[161] Cfr. In sanctam Christi generatianem, 5; PG 31, 1468b.

[162] Cfr. In Isaiam 208; PG 30, 477b.

[163] Cfr. In sanctam… 3; PG 31, 1464a.